Introdução
Nos primeiros tempos da Maçonaria especulativa, qualquer local podia ser transformado num Templo Maçónico, para isso bastava, desenhar no chão, com giz, o “Quadro” simbólico do grau em que a Loja iria trabalhar. Depois da sessão, bastava apagar o “Quadro” para se considerar que esta estava encerrada. Mais tarde, para facilitar o trabalho repetitivo, surgiram as telas pintadas, que eram desenroladas no início de cada sessão. Actualmente, os Templos Maçónicos têm todos os símbolos representados num “Quadro simbólico” devidamente encaixilhado, no eixo longitudinal do Templo, entre as colonetas da “Sabedoria”, “Força” e “Beleza”, voltado para o Ocidente, de modo a permitir a livre circulação entre o Norte e o Sul e entre o Altar e as Colunas “J” e “B”.
No “Quadro simbólico” do grau em que a Loja está a trabalhar estão desenhados todos os símbolos maçónicos, necessários ao desenvolvimento dos trabalhos do grau. A presença do “Quadro simbólico” do grau na Loja, para além de informar todos os participantes, em que grau os trabalhos estão a ser realizados, idealiza também, que nenhum trabalho deve sr iniciado sem que antes tenha havido um planeamento prévio das actividades.
O “Quadro simbólico” do grau de Aprendiz é composto pelos seguintes elementos:
Duas Colunas sobre as quais se colocam em cada uma delas três Romãs;
A Porta do Templo, antecedida por três degraus;
O Delta Luminoso, por cima da porta;
O Pavimento em Mosaico, com a Orla Dentada a circundar todo o painel;
Uma Pedra Bruta e uma Pedra Cúbica;
Uma corda que emoldura o topo e metade dos lados do painel, com três “laços do Amor”, um em cada extermidade;
O Sol e a Lua.
Para além destes símbolos, estão também representados no “Quadro simbólico” do grau de Aprendiz, os instrumentos de trabalho dos pedreiros, utilizados pelos iniciados deste grau:
O Esquadro e o Compasso;
O Prumo e o Nível;
O Malho e o Cinzel;
A Prancha de Traçar.
Simbologia dos Elementos Representados no “Quadro Simbólico” do Grau de Aprendiz:
As Duas Colunas
A coluna colocada ao Norte, à esquerda de quem entra no Templo, tem visivel no seu fuste a letra “B”, enquanto que a coluna colocada ao Sul, à direita de quem entra no Templo, tem visivel no seu fuste a letra “J”, ambas em posição de leitura do Venerável Mestre. Estas letras são conhecidas historicamente, por serem as iniciais de Jakin e Boaz, ou de Yakhin e Bo’az, que significam respectivamente “ele tornará estável”, e “nele há força”, e cuja junção das duas palavras hebraicas, significa: “Deus estabeleceu na força, o templo e a religião de que Ele é o centro”.
Todavia, para além desta definição judaica, as colunas Jakin e Boaz também podem ser associadas à simbologia dos dois solstícios, os quais simbolizam as duas fases ascendente-descendente do ciclo anual. Pelo que através desta conotação, em termos simbólicos, assemelham-se aos dois São João, o Baptista e o Evangelista. Assim, por consequência desta conotação, a coluna “B” e “J” simbolizam também, a "porta dos homens" e a "porta dos deuses", respectivamente. Pelo que as colunas de Jakin e de Boaz se transformam também nas portas zodiacais de Câncer e de Capricórnio, as quais correspondem à entrada do Verão e do Inverno, isto é, ao descenso e ao ascenso da luz solar.
Na verdade, dentro do processo iniciático, as portas solsticiais cumprem um papel muito importante, uma vez que reproduzem exatamente as etapas do desenvolvimento cosmogónico, cujo nascimento e morte representam um arquétipo de toda a Iniciação. Aliás, este mesmo processo pode ser visto também na mitologia de grande número de heróis e de deuses solares, como é o caso de Osíris, Quetzalcóatl, Mitra e do próprio arquiteto Hiram. Com respeito à vida de Cristo, é interessante assinalar que o significado das iniciais incrostadas nas colunas Boaz e Jakin, bem podem ser as iniciais de Baptista e Jesus, os quais representam o último e maior dos profectas que anunciou a vinda do Messias e o Salvador, respectivamente; ou dentro fa mesma filosofia, podem ainda corresponder às iniciais de Belém e Jerusalém, as duas cidades que testemunharam o nascimento e a morte do Salvador, ou seja, as colunas de Jakin e de Boaz têm como simbolismo o ciclo completo da existência humana.
As Romãs
Nos Templos Maçónicos, as Romãs têm o seu lugar no cimo dos capitéis das colunas Jakin e Boaz, em número de três em cada uma das colunas, colocadas sobre estes semi abertas e, é nessa forma e disposição, que representam a prosperidade, a unidade e a solidariedade de todos os Maçons. Para os Maçons, a romã também simboliza a harmonia social, porque somente com as suas sementes, unidas, apoiadas umas nas outras consegue obter a forma que a caracteriza e distingue dos demais frutos, uma vez que por se desenvolverem com os grãos muito unidos entre si, perdem o seu formato natural, que logicamente seria a forma redonda; os bagos comprimidos uns aos outros, transformam-se em polígonos geométricos, com várias facetas lustrosas, da cor do sangue, fazendo pela sua forma geométrica lembrar os favos de uma colméia de abelhas; as quais como se sabe labutam ininterruptamente e, tal como estas, o verdadeiro Maçom também colhe nos jardins (a sua Loja) o néctar que deposita em si próprio e, também tal como aqueles insectos himenópteros, usufrui das lições que a Natureza lhe proporciona. Claro, que nesta metáfora, a colméia representa o Templo interior de cada Obreiro, que se avoluma para receber o precioso mel.
Os Três Degraus
A passagem do mundo profano para o plano iniciático não pode ser realizada directamente. Pelo que para esta passagem, são necessários “Três Degraus simbólicos”, que representam os três anos da idade do Aprendiz, e em simultaneidade referem-se às três primeiras artes: a gramática, a retórica e a lógica. Também significam o Uno, a Unidade Universal; o Dois, a dualidade da manifestação e o Três, a trindade e a perfeição. Aliás, a sua simbologia é encontrada na mística do Delta, representativo de Deus, sendo Este a tríades divina dos povos: Deus Pai, Jesus e Espírito Santo para os Cristãos; Osíris, Ísis e Hórus para os egípcios antigos; Brahma, Vishnu e Siva para o hinduísmo; Yang, Ying e Tao para o taoismo, etc.
O Pavimento de Mosaico
O piso de lajes quadradas, brancas e pretas, dispostas alternadamente, simboliza o soalho do Ocidente, a vereda dos Justos, Isaías 26:7: "Recto é o passo do Justo e recta é sua vereda".
Noutra prespectiva, o piso de lajes brancas e pretas, para além de simbolizar as diferentes opiniões da Maçonaria, simboliza também a polaridade Positiva e Negativa que se encontra na Natureza; o Corpo e o Espírito unidos, mas não confundidos; a dualidade do Bem e do Mal; as Trevas e a Luz; os Seres Animados e os Seres Inanimados que decoram e ornamentam a criação; o enlace do Espírito e a Matéria; o Dia e a Noite; o Princípio e o Fim; a Vida e a Morte, etc.
No “Quadro simbólico” do grau de Aprendiz, uma orla dentada envolve toda a cercadura do mosaico ladrilhado, para nos indicar o principio da atracção universal, simbolizada no amor. Por outro lado, representa também os planetas que gravitam em torno do Sol, os filhos reunidos em volta dos pais, enfim, os maçons unidos e reunidos em volta dos seus Estandartes e dos seus ideais de fraternidade e de solidariedade.
Em suma, o pavimento de mosaico branco e preto representa a dialética harmónica dos opostos, na qual todo o Maçom deve encontrar a fonte de inspiração, para uma solução fraternal e harmoniosa que ultapasse as suas divergências e pontos de vista diferentes dos seus.
A Pedra Bruta e a Pedra Cúbica
A Pedra Bruta representa o Homem sem instrução com suas asperezas de carácter, essencialmente, devido à ignorância em que se encontra e às paixões que o dominam. Enquanto que a Pedra Cúbica simboliza a obra prima final que todo o Maçom deve procurar realizar, porque simboliza a perfeição absoluta, dado que sobre esta passou o Compasso e o Esquadro, que demonstraram estar perfeitamente talhada, quer em linhas, quer em ângulos rectos, por isso apta a ser incluida na estrutura do nosso Templo Interno e, para isso precisamos do auxilio do Esquadro, do Nível, e do Prumo, que por serem instrumentos imprescindíveis às construções sólidas e duráveis, contribuem para que o nosso Templo seja eterno.
A Corda de Nós e os “Laços do Amor”
No topo do “Quadro simbólico” do grau de Aprendiz deve estar representado um grosso cordão com três nós, ou ”Laços do Amor”, em distâncias proporcionais, geralmente, um em cima e outro em cada um dos lados e, cujos extremos deste terminam em borlas. Um cordão assim representado, explica-nos a relação existente entre uma faculdade espiritual e outra. A forma dos “Laços do amor”, é muito simples, pois, consiste num anel onde é introduzida a outra extremidade do cordão. Os nós assim entrelaçados, representam a união fraterna que liga todos os Maçons do Globo, sem distinção de raças, nem credos, nem condição social. Por outro lado, o seu entrelaçamento também simboliza o segredo que deve rodear os nossos mistérios, enquanto que o seu número de três, simboliza os três anos de idade que simbolicamente são atribuidos ao Aprendiz maçom.
O Sol e a Lua
No topo do “Quadro simbólico” de Aprendiz, à direita e à esquerda deste, estão representados o Sol e a Lua, que são as duas Luminárias da Loja. O sol, activo, fica representado à direita, do lado da coluna “J”, e a Lua, passiva, é representada à esquerda, do lado da coluna “B”.
Na Loja, os trabalhos são iniciados simbolicamente ao Meio-dia, quando o Sol está no Zénite, e fechados à Meia-Noite, quando ele está no Nadir.
Por outro lado, de acordo com os antigos rituais, as três luzes da Loja eram o Sol, a Lua e o Mestre da Loja. Sendo o Sol o símbolo do Orador e a Lua o símbolo do Secretário.
O Esquadro e o Compasso
O Esquadro é um instrumento fixo enquanto que o Compasso é um instrumento móvel, pelo que o Esquadro é um instrumento passivo e o Compasso é um instrumento activo.
Quanto ao seu simbolismo, o Compasso simboliza o espírito e, o Esquadro simboliza a matéria. Pelo que em Loja, o Compasso e o Esquadro são colocados sobre o altar e em cima da Bíblia, de três modos diferentes, conforme o grau em que a Loja esteja a trabalhar. Nos trabalhos no grau de Aprendiz, o Esquadro é colocado sobre as pontas do compasso, cujo significado é de que que a matéria ainda domina o espírito, já no grau de Companheiro, essas duas forças equilibram-se e, no grau de Mestre o espirito sobrevoa a matéria e a transcende.
Assim, porque não se pode exigir mais do neófito, para além da sua sinceridade e confiança, qualidades naturais da equidade e da rectidão, no “Quadro simbólico” de Aprendiz, o esquadro deve ser representado em cima das pontas do compasso, porque as suas pontas indica-nos o grau de ascendência sobre a matéria. No “Quado simbólico” de Aprendiz o seu afastamento deve ser de 45º.
Na verdade, no simbolismo maçónico, o Esquadro e o Compasso estão sempre associados.
A Perpendicular e o Nível
A Perpendicular e o Nível dão, respectivamente, a Vertical e a Horizontal. Pelo que encontramos ai o princípio activo e passivo das duas polaridades universais, sendo uma de movimento e de acção e outra de inércia e de repouso.
O Nível indica a Horizontal, mas ele próprio está munido da Vertical: a Perpendicular. Pelo que o Nível é um instrumento mais completo do que a Perpendicular sozinha, e este é o motivo porque é a insígnia do Primeiro Vigilante, o único oficial de Loja qualificado para tomar o lugar do Venerável em caso de ausência deste.
Quanto à Perpendicular, é passiva, e é o símbolo da profundidade do conhecimento e da rectidão.
A Prancha de Traçar, ou Tábua de Delinear
A Prancha de Traçar, é uma tábua retângular, sobre a qual o Mestre Maçom traça, simbolicamente, os projetos da construção do Templo Interior. Nela, simbolicamente, estão traçadas a cruz quádrupla e a cruz de Santo André. Sendo a cruz quádrupla formada por duas paralelas cruzadas, que simbolizam a limitação da capacidade do homem; enquanto que a cruz de Santo André, é assim designada, porque segundo a lenda, Santo André terá sido supliciado numa cruz com a forma de um “X”. Simbolicamente, na Prancha de Traçar, o topo da cruz quádrupla une-se aos quatro ângulos opostos pelo vértice, e cujas hastes desta cruz divergem para o infinito. Pelo que a cruz de Santo André simboliza os opostos e as díades.
Na verdade, as duas cruzes assim dispostas, constituem o esquema onde se traça o alfabeto, que numa disposição convencionada, constituiem a chave do alfabeto maçónico.
Por outras palavras, em Maçonaria, o papel sobre o qual se escreve, designa-se por “Prancha de Traçar”, e o verbo “escrever”, é substituido pela expressão: “Traçar uma Prancha”.
A razão porque este símbolo figura já no “Quadro de Aprendiz”, deve-se ao facto da “Prancha de Traçar”, para além de servir para o Mestre estabelecer os seus planos, serve também para os Aprendizes exercitarem os esboços das suas idéias.
O Malho e o Cinzel
Com o malhete e a acção da força da gravidade, o Aprendiz produz um efeito preciso e determinado na matéria, que na realidade é a desagregação da parte que excede a forma que se deseja, menos resistente que a massa metálica do malhete. Por consequência deste efeito, o malhete, ou o malho, representa o Poder potencialmente destrutivo, se não for utilizado com extremo cuidado e muita inteligência será destruidor. No campo da simbologia, comparativamente, se não houver controlo inteligente sobre o lado energético da natureza humana, este pode desenvolver-se de maneira exagerada e indevida, comprometendo seriamente a Obra de Construção Individual, ao mesmo tempo que se transforma num potencial perigo para a estabilidade do edifício social.
Em comparação com o malhete, ou malho, a massa metálica do cinzel é limitada; porém, dada a sua têmpera, perfil e agudez de forma, faz com que quando cravado na matéria bruta, a corte, em vez de a quebrar em pedaços, como o faria por si só o malho. Todavia, apesar das suas qualidades intrinsecas, o cinzel sem a força do malho, ou malhete, seria ineficiente e incapaz de produzir por si só o resultado esperado. Pelo que na esfera intelectual, comparativamente, este instrumento comporta-se similarmente à natureza humana, que continuamente elabora planos e projectos, porém, se não tiver a energia intelectual indispensavel e a força de vontade do crer para a concretização da obra, nunca conseguirá pôr em prática os planos delineados na prancha de traçar, condenando-se à inércia.
A PORTA DO TEMPLO e o DELTA LUMINOSO.
No centro do “Quadro simbólico” do Aprendiz, deve estar ilustrada uma Porta, situada entre as Duas Colunas “J” e “B”, a qual representa a Porta do Templo. Este Templo, por ser uma cópia do Templo de Salomão, deve ser construído em formato rectangular e, estando o Venerável sempre colocado no Oriente e em lado oposto à entrada, conclui-se que a Porta do Templo sempre se situará no lado do Ocidente. Por esta razão, frequentemente, é chamada de Porta do Ocidente, representando que no seu limiar não existe luz (o Sol se põe no Ocidente), mas somente trevas; ou seja, o mundo profano.
Por cima da Porta do Templo, deverá estar desenhado um triângulo, o qual representa o Delta Luminoso. No Templo, este Delta está no Oriente, atrás e acima da cadeira do V\M\.
O Delta Luminoso simboliza, no Plano Físico, o Sol de onde emana a vida e a luz. No plano intermediário, ou astral, simboliza o Verbo, o Princípio Criador. No plano espiritual, simboliza o Grande Arquiteto do Universo.
Por representar a presença permanente da Divindade, o Delta Luminoso é um dos principais símbolos maçónicos, o qual Representa para além de representar a presença permanente de Deus, lembra-nos a sua onisciência e, a eterna e divina vigilância que observa e registra todos os actos do ser Humano.
Conclusão
Foi realmente muito gratificante, fazer uma pesquisa desta natureza e dimenção. Muitas vezes me questionei quanto ao significado do “Quadro simbólico” de Aprendiz, sem imaginar a sua real profundidade. Obviamente, que este trabalho de pesquisa não teve por finalidade exaurir o tema, mas antes, apenas trazer à discussão o seu significado mais superficial e básico de conhecimento sobre o “Quadro simbólico” de Aprendiz e, corrigir alguns erros acumulados durante anos, como é o caso de se confundir o Quadro simbólico de Aprendiz com o de Companheiro, já não mencionando as omissões de elementos no “Quadro” simbólico..